7.2.04

O Péssimo de Pareto

Quando no começo do século XX o economista italiano Vilfredo Pareto escreveu sobre as possibilidades de satisfação do consumidor, semeou na mente dos economistas liberais a tese de que uma sociedade qualquer terá atingido o seu grau ótimo de satisfação quando não for mais possível se conseguir a melhora de um indivíduo sem que haja o prejuízo de outro. Considerando-se os limites tecnológicos e orçamentários, o ótimo de Pareto representaria portanto uma situação em que as possibilidades de satisfação individual foram plenamente alcançadas, o que poderia ser entendido como uma situação de plena eficiência do sistema econômico.

Ora, um século depois de Pareto, a ortodoxia econômica do Banco Central e do Ministério da Fazenda parece apta a demostrar o avesso daquela utopia liberal desenhada pelo economista italiano: bebendo na mesma fonte, mas fazendo política econômica ao invés de teoria, os nossos neoclássicos (corrente ortodoxa que acredita na capacidade de autoregulação dos mercados) tem levado o governo a uma situação que, apesar de parecer impossível no campo das idéias, vai se consumando como um péssimo de Pareto.

Ou seja, passo a passo, a política econômica brasileira parece avançar no esgotamento das possibilidades de deterioração econômica, sem que haja melhora correspondente para qualquer parte da sociedade.

Na semana passada, após mais uma demonstração do apreço do BC pela metafísica econômica, o pessimismo galgou novos setores da sociedade como os investidores da bolsa de valores e os empresários - setores que até outro dia apostavam suas fichas neste ano de 2004 que mal começou. Agora, não são mais apenas os desempregados, os sem terra e os de renda carcomida que temem pelo péssimo.

A política econômica em voga parece crescentemente disfuncional a todos aqueles interesses que compõem a sociedade brasileira, exceto aos interesses dos rentistas - credores do setor público - que, a bem da verdade, por ideologia, vínculos estrangeiros ou cinismo, já não deveriam mais ser considerados como parte desta nossa nação. Aliás, como esta classe foi muitas vezes tratada como estéril - isto é, não contribui de forma orgânica para o desenvolvimento da sociedade – poderíamos dizer que as benesses que lhe tem caído no colo não comprometem em nada o equilíbrio paretiano às avessas inventado por nossos economistas.

Assim, excluídos os rentistas do modelo, haveria fortes evidências para afirmar que atingimos o fundo do poço, o exato péssimo de Pareto, onde ninguém mais consegue piorar sem que alguém melhore.

E o equilíbrio se fez.


Marcelo Manzano
[ publicado no Correio Caros Amigos - 7 de fevereiro, 2004 ]

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